Com a chegada da primavera, depois de um período longo de confinamento e como um receio de uma nova vaga, os cidadãos procuram, cada vez, passeios/viagens pelo natureza, dos locais recônditos e pouco explorados, em oposição ao turismo de massas.
Esta tendência vê-se refletida nas diferentes publicações que surgem nas redes sociais, com especial destaque para as fotografias de natureza. Assiste-se a “explosão” de imagens da natureza no que aparenta ser uma uma nova relação Homem-Natureza assente nesta captação do instante, na perpetuação, no espaço e no tempo, do momento. Momento esse que pode ser observado no instante imediatamente a seguir a ele ser produzido fruto da digitalização da fotografia. Esta ferramenta útil, na medida que nos permite olhar para o produto final de modo instantâneo, retira-nos a possibilidade reflexão mais cuidada sobre momento captado, na medida em que, visto o produto final, avançamos imediatamente para o seguinte na procura do momento perfeito. Voltar ao modo analógico, através do processo de revelação existente no final século XX, pode ajudar a ligar da procura do momento perfeito e focar a atenção no momento presente.
O processo de revelação, tal como toda a fotografia desenrola-se em torno da luz. Mas o que é exactamente a luz?
A luz visível é um fluxo de energia radiante proveniente do Sol, ou de outra fonte de luz radiante. As suas características principais são quatro e ocorrem em simultâneo. A luz comporta-se como se se propagasse na forma de ondas, à semelhança das ondas na superfície das águas. Os diferentes comprimentos destas ondas dão aos olhos a sensação de diferentes cores. Por outro lado, a luz propaga-se em linha recta e uma grande velocidade, 300000 km/s, no vazio, um pouco menos no ar e ainda um pouco menos em substâncias mais densas como a água ou o vidro.
A luz apresenta uma natureza dualista, isto é, em determinados fenómenos comporta-se como onda, mas em outros comporta-se com se fosse uma partícula de luz – fotão.
No processo de revelação de uma fotografia a preto e branco, associado ao fenómeno da luz existe também uma reacção de oxidação-redução. Este tipo de reacções químicas é caracterizado pela transferência de electrões. A película fotográfica a preto e branco é uma tira clara, contendo celulose e coberta de grãos de brometo de prata, AgBr. A exposição do filme activa o brometo de prata, passando para um estado excitado, AgBr*. Em seguida, o filme exposto é tratado com um revelador, substância contendo um agente redutor moderado.
No processo de oxidação-redução, os iões Ag+, no brometo de prata excitado, AgBr*, são preferencialmente a prata metálica. A quantidade de partículas pretas de prata metálica formadas sobre o filme é directamente proporcional à quantidade ou intensidade da luz que originalmente incidiu sobre o filme. O AgBr que não reagiu tem que ser removido do filme, caso contrário, podia reagir lentamente, tendo como consequência que o filme ficaria completamente negro. Para evitar esta reacção indesejável, o filme é rapidamente tratado com um “fixador”, normalmente uma solução de tiossulfato de sódio.
O processo descrito anteriormente, corresponde à preparação de um negativo a preto e branco. A imagem positiva pode ser obtida fazendo incidir luz através do negativo sobre o papel fotográfico e repetindo o procedimento de revelação. Como as regiões brancas da imagem fotografada aparecem pretas no negativo, ficam opacas e originam áreas não excitadas (brancas) no papel fotográfico. Desta forma, este processo inverte as áreas claras e escuras do negativo de forma a produzir a imagem desejada.
Este processo de revelação de fotografias a preto e branco reflecte a ideia que Michael Lanford tem da fotografia ao referir-se que “a fotografia consiste essencialmente num conjunto de ciência prática, imaginação e desenho, habilidade técnica e capacidade organizativa”.